Resenha do livro A Rede Urbana (1989)

Tempo-cidade-paisagem-fantasia. Foto: Pixabay

REFERÊNCIA: CORRÊA, Roberto Lobato. A Rede Urbana. São Paulo: Editora Ática, 1989.

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Leitura imprescindível para Geografos e urbanistas, Roberto Lobato Corrêa em seu livro A rede urbana procura mostrar o que foi a produção geográfica sobre redes urbanas, as abordagens que mais evidenciam suas naturezas e significados além de trazer contribuições de nível teórico e prático a esses estudos. Como abordagens, Corrêa destaca-nos uma espécie de classificação dos conceitos de redes urbanas utilizados por pesquisadores diversos:

→ Classificações funcionais: nesta, pretende-se mostrar a existência de diferenças entre as cidades no que se referem as suas funções, colaborando assim para a compreensão da organização espacial. Critica-se nesta abordagem a natureza dos dados utilizados, assim como a falta de objetivos geográficos definidos em seus estudos.

→ As dimensões básicas de variação: uso de técnicas descritivas tratando um grande número de variáveis originando fatores ou dimensões básicas de variação. Desta abordagem é criticado o fato de que grande número de variáveis é determinado sem nenhuma base teórica explícita ou escolhido a partir da visão de mundo do pesquisador.

→ Tamanho e desenvolvimento: considera a rede urbana como um todo e estabelece uma relação entre o tamanho das cidades de uma rede urbana e certos aspectos da vida econômica e social.

→ A hierarquia urbana: é a abordagem mais discutida, seus estudos procuram compreender a natureza da rede urbana segundo a hierarquia de seus centros.

→ As relações cidade-região: abordagem empregada principalmente por geógrafos europeus, trata da relação cidade-campo sob uma perspectiva geográfica considerando as relações entre uma grande cidade e sua hintelândia constituída por centros urbanos menores e área rurais.

Porém Corrêa adverte que as abordagens citadas anteriormente se mostram insuficientes e incapazes de darem conta da realidade social, isso se explica por elas serem, na maioria das vezes, de natureza positivista, procurando uma neutralidade científica e colocando a História de lado. Sabendo disso, Corrêa procura a partir da análise da contribuição de estudiosos, contribuir para identificar a natureza e o significado da rede urbana. Isso ele faz mostrando o objeto ‘rede urbana’ sendo apreciado sob diferentes pontos de vista.

O primeiro ‘lado do prisma’ aponta a rede urbana como um reflexo da divisão internacional do trabalho (D.I.T.) e condição para sua existência. Apresenta-se como reflexo na medida em que por meio das vantagens locacionais diferenciadas verifica-se uma hierarquia urbana e uma especialização funcional que define determinado centro urbano. Um segundo modo de interpretar a rede urbana pode ser apreciado se considerado como a ‘cristalização do processo de realização do ciclo do capital’ visto simultaneamente como a forma sócio–espacial de realização do ciclo de exploração da grande cidade sobre o campo e centros menores. Corrêa mostra também uma terceira maneira de enxergar o conceito ‘rede urbana’ a partir da teoria de Milton Santos. Afirma que estrutura, processo, função e forma são categorias de análise social e devem ser consideradas nos estudos de rede urbana. E, nestes, devem ser considerados também as formas existentes no passado, assumindo assim, à forma e ao processo, relações que podem ser complexas ou simples. Por fim, concluindo a apresentação dos olhares às redes urbanas, Corrêa mostra que é possível periodizar as formas espaciais.

Localização de Mamborê/PR. Mapa organizado por: TOWS, R. L., 2010.

Corrêa finaliza seu estudo apontando que entende por rede urbana “o conjunto funcionalmente articulado de centros que se forma na estrutura territorial onde se verifica a criação, apropriação e circulação do valor excedente”. Ao fim da obra, CORRÊA assume que dada a complexidade do assunto torna-se difícil admitir apenas um método. Com essa análise final, Corrêa demonstra grande humildade, pois reconhece que seu trabalho como uma contribuição passível de ser comprovada somente a partir da sua materialização por meio da prática. Enfim, o que se pode afirmar sobre esta obra é que além de ser rica fonte teórica para estudos referentes á rede urbana, ela deixa discussões em aberto, promovendo o debate e gerando promissoras possibilidades de como gerenciar o espaço urbano dentro de novos contextos.

* REFERÊNCIA: CORRÊA, Roberto Lobato. A Rede Urbana. São Paulo: Editora Ática, 1989.

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