Chalhoub inicia seu texto apontando que no Rio de Janeiro no fim dos anos 1890 existia o mais célebre cortiço carioca, o Cabeça de Porco. Parte deste cortiço havia sido interditada pela Inspetoria Geral de Higiene do Rio de Janeiro. A intendência municipal notificou os moradores para que eles se retirassem do local para que as casas fossem demolidas. Os moradores ignoraram a intimação. Em janeiro de 1893, se reúnem no local: a polícia, técnicos e autoridades e mais de cem funcionários da Intendência municipal e começam a destruição do ‘Cabeça de Porco’. Várias famílias se recusavam a sair de suas casas. Alguns se retiravam apenas quando os escombros começavam a chover sobre suas cabeças. No outro dia, já não existia mais o Cabeça de Porco. O destino desta população é ignorado, mas alguns autores defendem a hipótese de que estes tenham dado origem a formação das primeiras favelas no Rio de Janeiro. “Com a destruição do Cabeça de Porco, nem bem se anunciava o fim da era dos cortiços, e a cidade do Rio já entrava no século das favelas. ”O prefeito Barata foi visto pela imprensa carioca como um herói. Para isto ela usava de um humor asqueroso e alusões à mitologia grego-romana. Chalhoub acredita existir grande contemporaneidade neste evento. Intervenções violentas das autoridades no espaço urbano sob todas as justificativas possíveis são eventos bastante comuns no cenário brasileiro.
Toda essa narrativa e suas repercussões abrem amplo leque de perguntas. De onde veio este pensamento? Quem inventou? Segundo Chalhoub a intervenção das autoridades públicas sobre os cortiços se viu legitimada principalmente a partir de dois pontos:
-A Construção da idéia de que os conceitos de classes pobres e classes perigosas são sinônimos;
-A Crença de que a cidade deve ser administrada levando em conta apenas critérios técnicos ou científicos.
A partir da definição destas duas linhas de pensamento, Chalhoub tece discussões iniciais sobre as possíveis origens destes conceitos, alguns conflitos deles derivados e a influência que elas exercem ainda hoje. Ao fim retorna ao episódio do Cabeça de Porco e demonstra de forma bastante clara que a prática da “gestão científica” da cidade escolhia cuidadosamente seus beneficiário.
Chalhoub adverte, no entanto que não acredita que todos os reformadores da cidade eram movidos por interesses maquiavélicos. Vários deles agiam por convicções intimas e alguns conseguiam vitórias significativas. Mas ele alerta que se deve constatar que muitas vezes tais resultados eram obtidos a “preços sociais excessivamente elevados”. Nesse sentido ele afirma que apesar do discurso político neutro tratou-se sempre de tomar decisões políticas claras quanto ao direcionamento dos benefícios a serem alcançados através das iniciativas da administração pública. A prática da “gestão científica” da cidade escolhia cuidadosamente seus beneficiários.
Referência Consultada
- CHALHOUB, Sidney. “Cortiços”. In: Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte imperial. São Paulo, Cia da Letras, 1996. pp. 15-59. Compre o livro pelo Site: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10660
- Texto feito em 2011 juntamente com Edson (curso Geografia- Fecilcam)