Este texto visa analisar e buscar formas de estimular/desenvolver o turismo regional na Mesorregião Centro Ocidental Paranaense (25 municípios) a partir de teorias do Marketing. A Mesorregião é composta por 25 municípios, internamente subdividida em:
- Microrregião de Campo Mourão ( composta por: Araruna, Barbosa Ferraz, Campo Mourão, Corumbataí do Sul, Engenheiro Beltrão, Farol, Fênix, Iretama, Luiziana, Mamborê, Peabiru, Quinta do Sol, Roncador e Terra Boa) e;
- Microrregião de Goioerê (composta por: Altamira do Paraná, Boa Esperança, Campina da Lagoa, Goioerê, Janiópolis, Juranda, Moreira Sales, Nova Cantu, Quarto Centenário, Rancho Alegre D‟Oeste e Ubiratã).
Atualmente possui mais de 330 mil habitantes (IBGE,2010), destes, mais de 30% da população se concentra na cidade de Campo Mourão, o principal município da região. As atividades predominantes são a agricultura e agroindústria, porém comércio e indústria possuem participação significativa na economia regional.
Nos aspectos turísticos, a região possui grande potencial no chamado turismo rural e turismo gastronômico. Além disso Campo Mourão, Goioerê, Roncador e Ubiratã despontam com redes hoteleiras de boa qualidade e preço justo.
o que é turismo?
Segundo a Organização Mundial do Turismo, o conceito de turismo se refere às “atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras”.
Ferreira (FERREIRA, Victor Henrique Moreira. Teoria geral do turismo. 2. ed. rev. – Palhoça: UnisulVirtual, 2007) apresenta várias categorias de turismo, alertando que deve se tomar cuidado na classificação e criação de novas tipologias, uma vez que nem tudo pode ser classificado com turismo. A Tabela 2 e Figura 2 elencam um pouco das potencialidades no turismo na Mesorregião Centro Ocidental Paranaense.
Tabela 2 – Principais produtos turísticos regionais
Tipologia de Turismo | Cidade/ Pontos turísticos de interesse |
Hidrotermal ou de termas | Iretama/ Termas de Jurema- Resort Hotel |
Cultural | Museus municipais de Boa Esperança, Campo Mourão, Goioerê, Peabiru, e Ubiratã; Campo Mourão – Monumentos artísticos existentes no Parque do Lago. Peabiru – Monumentos existentes na praça central da cidade (Obelisco e Placa em memória ao Caminho de Peabiru) |
Religioso | Rota da Fé – A Rota passa em 2 a 3 cidades visitando lugares sagrados.Arquitetura sacra regional, grutas e demais lugares sagrados. |
Folclórico e artesanal | Expocrochê – Barbosa Ferraz Festival de Folclore – Quinta do Sol |
De eventos | Feiras e exposições agrícolas realizadas anualmente. Festas gastronômicas (ex. Festa Nacional do Carneiro no Buraco). Caminhadas Internacionais na Natureza (Barboza Ferraz, Luiziana, Campina da Lagoa, Roncador, Campo Mourão, Corumbataí do Sul, Fênix, Boa Esperança, Peabiru) Motocross – Boa Esperança |
Da terceira idade ou melhor idade | Reuniões, bailes e passeios promovidos pelo grupo da melhor idade de Boa Esperança |
Urbano | Parques urbanos em diversas cidades da região (Ex. Parque Joaquim Teodoro de Oliveira em Campo Mourão) |
Rural | Pousada Parque das Gabirobas em Roncador Hotel Fazenda Água Azul em Quinta do Sol |
De recreação e entretenimento | Complexo madeira em Juranda; Pesqueiros em Campina da Lagoa, Terra Boa, Campo Mourão, Mamborê e Peabiru; Parque Estadual Lago Azul em Campo Mourão; Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo em Fênix |
Muitos destes roteiros são desconhecidos pela própria população local, o caso mais famoso é o Parque Estadual Lago Azul, uma área pública aberta a visitação gratuita com guias, trilhas e paisagens exuberantes desconhecido por boa parte da população de Campo Mourão (a apenas 10 km de Campo Mourão).
Afinal, como desenvolver o turismo na região?
A comunicação entre as partes envolvidas no processo é fundamental para entender, criar, fornecer e tornar o negócio atrativo aos olhos do público alvo. O intercâmbio de informações entre as diversas empresas com atividades turísticas e administrações públicas municipais auxilia na criação de “valor ao cliente”, descrição da possibilidade de vivência e planejamento da viagem (hotéis, restaurantes, linhas de transporte público, etc.). Neste ponto, entra a importância de parcerias entre o governo e empresas para exploração e potencialização do uso turístico.
Kotler (2013, p. 129) afirma que “todos os comerciantes prestam serviços. O desafio é oferecer aos clientes experiências memoráveis”. O mesmo autor destaca como bons exemplos de marketing de experiência: Walt Disney (parque temático), Starbucks (cafeteria), Niketown (loja de artigos esportivos). Nacionalmente, destaca-se nesse segmento: Beto Carrero Word, Termas de Jurema, roteiros de Bonito-MS entre outros vários exemplos. Pelo fato de o turismo ser algo intangível, mais ligado à experiência, Ferreira(2012) defende que
O marketing experiencial é sobre a essência de um produto e amplificando-o num conjunto de experiências tangíveis, físicas e interativas que reforçam a oferta. Ao invés de ver a oferta numa forma tradicional, através de meios de publicidade, como anúncios impressos ou mensagens electrónicas, os consumidores “sentem” que fazem parte da oferta.( FERREIRA, 2012, p.7 )
O mesmo autor defende a importância das redes sociais para o estabelecimento do marketing experiencial, garantindo, desta forma, maior proximidade do empreendimento (físico ou digital) com seus clientes e consequentemente, credibilidade e melhoria contínua em seus processos se for bem trabalhado pelo empreendedor. Reforçando essa tese, Terra et all (2014, p. 12) afirma que “o turista não publica sua impressão na rede porque lhe pedem, mas sim porque quer, e é isso que torna a informação crível.”
Ainda com relação aos turistas mais ‘participativos e engajados’, Motta (2014, p.13) destaca a existência de um novo tipo de consumidor, os “prossumidores”, assim designados por “não apenas usufruírem, mas influenciarem de alguma forma nos produtos/serviços presentes no mercado e nas tendências mercadológicas”, atitude esta cada vez mais comuns em diversos sites e redes sociais com tendência de aumentar nos próximos anos devido à popularização da internet e de equipamentos conectados à internet (smartphone, computadores, celulares e outros). O conhecimento e aplicação do marketing, mais especificamente o ligado as experiências dos usuários é colocado como alternativa para potencializar o turismo em todos os níveis.
Um pouco da história do turismo no Brasil
O início do planejamento turístico nacional se deu no período militar, com a criação da EMBRATUR (Empresa Brasileira de Turismo) em 1966 e do Conselho Nacional de Turismo. Nos anos seguintes, a EMBRATUR foi ganhando novas funções e se afirmando no cenário nacional. Anos mais tarde foi instituído o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), implantado no Brasil entre 1994 e 2001, que, apesar das controvérsias foi um divisor de águas no trato com turismo no Brasil. Ele buscou descentralizar as responsabilidades, fortalecendo secretarias e órgãos estaduais/ municipais para gestão do turismo, delegando algumas atividades a entidades privadas (terceirização de serviços). Em 2003 foi criado o Ministério do Turismo e subdividido em órgãos responsáveis por setores específicos. Uma das principais mudanças foi a substituição do PNMT pelo Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil (PRT), o qual buscou a junção dos municípios turísticos, criando, regiões turísticas brasileiras.
Em janeiro de 2014 foi criada a região turística Roteiros da COMCAM inicialmente composta por 24 municípios (Todos os municípios da Mesorregião Centro Ocidental exceto Roncador). Posteriormente Roncador migrou à região turística Roteiros da COMCAM devido as sua similaridade geográfica e relacionamento econômico e social maior com as cidades pertencentes à COMCAM.
Atualmente, no estado do Paraná a principal entidade no trato com o turismo é a Paraná Turismo. Ela é uma autarquia estadual vinculada à Secretaria de Estado do Esporte e do Turismo e tem como objetivo:
(…) executar a Política Estadual de Turismo (Lei nº 15973/2008), através da implementação de programas e projetos de incentivo, de desenvolvimento, de fomento e de promoção do turismo, conforme previsto no PPA e no Plano Estadual de Turismo vigentes, com vistas à geração de negócios, empregos e resgate da cidadania que melhorem a qualidade de vida da população residente e satisfação dos que visitam o Paraná. (PR TURISMO, 2016)
Para garantir recursos do Ministério do Turismo, em fevereiro de 2016 foi criado a entidade privada ADETURS (Agência de Desenvolvimento Sustentável na COMCAM) com a missão de ser órgão de gestão e de apoio às atividades, projetos e iniciativas do turismo na região de abrangência, bem como orientar e estimular os associados para atuarem na construção do desenvolvimento sustentável do turismo local, regional, nacional e internacional. Com a criação da entidade, houve também a mudança na denominação da região turística que passa a se chamar “Ecoaventuras, histórias e sabores.”
Algumas propostas para a região
Estruturar o planejamento de marketing é essencial para entender, conhecer e se aperfeiçoar no mercado, independente do ramo de atuação. O primeiro passo nesse sentido é a elaboração de um plano de Marketing. A grosso modo, o plano estratégico de marketing deve deixar claro os objetivos e as estratégias adotadas para chegar até eles.
Como o turismo é uma atividade que mistura aspectos tangíveis e intangíveis a análise deve ser integrada e os resultados devem garantir “experiências e momentos únicos”. Logicamente, o marketing não faz milagres. É necessário investimentos em infraestrutura (energia, água, telecomunicações, meios de transporte), postos de combustível, hospitais, hotéis, bancos entre outros. Ferrell Apud Seitz (2005) afirma que o planejamento estratégico contempla as seguintes etapas:
- Análise dos ambientes interno, externo e dos consumidores.
- SWOT_ Análise das forças e fraquezas internas e das oportunidades e ameaças externas.
- Missão,metas e objetivos organizacionais.
- Estratégia corporativa ou estratégia das unidades de negócio. (afetam todas as áreas funcionais da organização, marketing, finanças, produção recursos humanos, etc.).
- Metas e objetivos de marketing
- Estratégia de marketing
- Implementação
- Avaliação e controle
- Plano de marketing. (Ferrell Apud Seitz, 2005, p. 95)
Nessa linha de pensamento Correia & Brito (2011) ao analisar o estudo de caso da cidade de Montalegre (Norte de Portugal) elenca três fatores fundamentais para o desenvolvimento do turismo rural de forma otimizada. Montalegre assim como a maioria dos municípios da COMCAM não possui uma indústria significativa e tem base econômica na agricultura. Tais fatores são os seguintes:
- Sustentabilidade dos destinos -> Não é só atrair o turista, mas também oferecer infraestrutura (água, energia, hospitais, segurança) e envolver as comunidades locais para que estes auxiliem no processo de promoção do destino turístico;
- Marca destino -> Criar uma identidade na mentalidade das pessoas para não ser ‘mais um na multidão’. Se diferenciar além do preço, reforçando os elementos intangíveis, através do uso da emoção e criatividade;
- Autenticidade como um valor chave das marcas do destino -> “Valores como a autenticidade e herança histórica e cultural são atualmente geradores de associações favoráveis às marcas do destino que com eles se identifiquem.”(CORREIA & BRITO, 2011,p. 132).
Nos últimos anos algumas organizações, como a EMATER, empresas privadas, prefeituras e igrejas estiveram trabalhando junto às comunidades locais com iniciativas nesse sentido em eventos como: as caminhadas internacionais na natureza, as Rotas da fé e os circuitos ciclísticos Vou de Bike são bons exemplos. O caso de Montalegre foi lento e se construiu no decorrer do tempo, fazendo uma analogia, tal fato demonstra que a COMCAM pode estar trilhando um bom caminho rumo a seu projeto turístico regional.
Iniciativas que visam impulsionar o turismo na região de Campo Mourão são constantes também impressa e online. Alguns dos melhores exemplos são os jornais locais, principalmente o Tribuna do Interior; revistas como a Metrópole, +Vida, Estação, Guia da Gastronomia entre outros; participação em feiras de turismo dentro e fora do estado do Paraná; além dos folders, cartazes, outdoors, informações veiculadas em emissoras locais de rádio e TV além de alguns vídeos distribuídos aleatoriamente em sites como o Youtube, por exemplo.Porém percebe-se raramente a integração das práticas de turismo com os atores envolvidos no processo.
Conclusão
Nota-se tímida divulgação das potencialidades turísticas na região de Campo Mourão. Tais ações poderiam ser otimizadas a partir da elaboração de planejamento de marketing conjunto entre o setor público e privado. Com as mudanças no cenário político e econômico do Brasil, a criatividade e inovação são indispensáveis para otimizar o uso dos recursos e gerar resultados que impactem positivamente na vida das populações locais.
Onde pesquisamos?
- Paraná tem mais quatro regiões turísticas.
- ANDRUKIU, Alcimara Meira Gonçalves; GÂNDARA, José Manoel Gonçalves. Asemoções no destino: classificando os atrativos turísticos de Antonina, Paraná (Brasil). Revista Hospitalidade. São Paulo, v. XII, n. 1, p. 344 – 369, jun. 2015.
- CORREIA, Ricardo & BRITO, Carlos. Importância do Marketing para o desenvolvimento Turístico: O caso de Montalegre. In: Revista Turismo & Desenvolvimento. nº 16, 2011 p. 127-143.
- CORRÊA, Cynthia; HANSEN, Deborah Rondello. Qualidade de serviços em restaurantes de São Paulo premiadospelo TripAdvisor: Análise do Conteúdo Gerado pelo Usuário. RevistaHospitalidade. São Paulo, v. XI, n. 2, p. 271 – 290 , dez. 2014.
- FERREIRA, Dina Filipa Salvador. O contributo das redes sociais para a experiência em turismo. Mestrado. Covilhã, 2012
- FERREIRA, Victor Henrique Moreira. Teoria geral do turismo. 2. ed. rev. – Palhoça: UnisulVirtual, 2007.
- IBGE. Resultados Gerais da Amostra Censo 2010. BRASIL, 2010.
- KOTLER, Philip. Marketing de A a Z- 80 conceitos que todo profissional precisa saber. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
- MOMM, Christiane Fabíola & LESSA, Rafael Orivaldo. Sistema de classificação bibliográfica e a conceituação do turismo: uma visão da CDU.Perspect.ciênc. inf. [online].2009, vol.14, n.2, pp. 141-154. ISSN 1413-9936.
- MAACK, R. Geografia física do Estado do Paraná. 3.ed. Curitiba: Imprensa Oficial, 2002.
- MOTTA, Bruna Seibert. Prossumidores: o novo papel dos consumidores na era da informação e sua influencia na decisão de compra. São Paulo, 2014.
- Paraná Turismo
- SEITZ, Helgo Max. O Planejamento Estratégico de marketing e o Plano de Negócios. In: e Gesta – Revista Eletrônica de Gestão de Negócios. v.1,n.3,out.- dez./2005, p.91-126.
- TEIXEIRA, Juliana Carolina. O Turismo e o Mundo do Campesinato na Mesorregião Centro ocidental Paranaense.(Dissertação).Maringá – PR, 2011.
- TERRA, José Cláudio. Turismo 2.0- Como os ambientes colaborativos estão transformando a forma de fazer negócio no turismo. TerraForum Consultores, 2014.
- TRIBUNA DO INTERIOR .Agência é criada para desenvolver o turismo na região da Comcam
E você?
Concorda? Discorda? Conta pra gente o que achou 😉