* Este texto faz parte da monografia defendida em 2021 no curso de turismo e meio ambiente da Unespar- Campo Mourão
A evolução e ampliação do alcance da Internet trouxeram mudanças drásticas nas relações comerciais envolvendo turistas e produtos turísticos, como por exemplo, na forma como os viajantes buscam as informações, como planejam e reservam viagens, e como compartilham as suas experiências (BUHALIS, 2006; COX et al., 2009).
A ascensão da internet, juntamente com o turismo, despertou o desejo de aperfeiçoamento das estratégias de marketing para atrair público. Conforme Popesku (2014), as estratégias de marketing passaram a ser mensuráveis de forma direta e quase instantânea, assim como a possibilidade de acompanhar o nível de satisfação do cliente, suas dúvidas e sugestões.
A internet passou a ser ferramenta utilizada por agentes do turismo e demais empresários com a finalidade de atrair novos clientes, demonstrar atrativos em potencial, evidenciar os equipamentos turísticos, acompanhar a aceitação/rejeição do cliente, dúvidas, reclamações e sugestões. Sendo possível ter maior proximidade com o cliente.
(MENDES FILHO; CARVALHO, 2014)
Essa proximidade pode ser comprovada pelo maior uso da internet no planejamento de viagens. Páginas oficiais de empresas, redes sociais, sites de viagens como Trip Advisor, Booking, Google Maps entre outras ferramentas, podem ser utilizadas por usuários que buscam informações sobre os locais que pretendem viajar. Nessas plataformas é possível obter relatos de experiências de outros turistas e informações gerais sobre o destino.
Sendo assim, é de extrema importância enfatizar sobre as fases do processo de planejamento das viagens, que, segundo alguns pesquisadores, entre eles Souza e Machado (2017), Machado (2018), Cox et. al. (2019), entre outros, são constituídos pelas fases de pré-viagem, durante e pós-viagem.
Fases do planejamento de viagens
Segundo estes autores, a “pré-viagem” pode ser definida como a fase de reconhecimento e pesquisa de informações, a fim de minimizar os riscos e fomentar a decisão adequada a partir de diferentes fontes. Em outras palavras, é a fase onde o turista faz toda uma pesquisa dos destinos turísticos em potencial para onde deseja realizar sua viagem. Faz também a análise das rotas, restaurantes, hotéis, e demais equipamentos e serviços que ele pode encontrar nas localidades em potencial. Tudo isso pode ser feito por meio da internet e mídias sociais. Onde o turista consegue obter informações, e assim, decidir qual será o atrativo escolhido.
Refere-se aos passos que os turistas dão antes de escolher seu destino para viajar em um feriado, aos finais de semana, ou até mesmo em suas férias anuais. São importantes as facilidades tecnológicas presentes nos dias atuais para realizar pesquisas em sites de agência de viagens, vagas em hotéis, restaurantes próximos, atrativos em potencial, a fim de escolher o melhor destino e reduzir os riscos de ocorrer algum imprevisto durante a estada ou até mesmo conhecer melhor a localidade escolhida.
Por sua vez, o “durante” é definido como o tempo da viagem em si, da experiência propriamente dita, que possibilita identificar aspectos situacionais da viagem, imediatamente. Isto é, o “durante” de uma viagem é a fase onde o turista compartilha experiências, vivências, conhece novos lugares, e aproveita o momento para publicar fotos e vídeos em suas redes sociais com amigos e familiares.
E por fim, o “pós-viagem” é a fase de avaliação da estada, onde o turista acessa alguma plataforma, como por exemplo, o TripAdvisor ou algum outro site para realizar avaliações dos equipamentos e serviços ofertados durante a sua viagem.
A imagem de um destino turístico
A imagem de um destino turístico é o passo principal quando se pensa na escolha de um local a ser visitado. Por meio da imagem, representando uma determinada paisagem, é possível evocar desejo para os olhos de quem vê, fazendo com que a pessoa se sinta estimulada a conhecer a localidade.
Conforme Perinotto (2013) o turismo utiliza a imagem para se promover e atrair consumidores. A comercialização acontece se utilizando das imagens e da emoção, pois, o turista, ‘compra’ uma imagem, com um sonho ou um desejo. Tal percepção para Lohmann e Netto (2008) pode ser positiva ou negativa e relacionada a compreensão, relações sociais e ideia que o consumidor tem do destino. Já Urry (2001), destaca que:
o olhar “romântico” enfatiza a natureza, a paisagem, o campo, o bucólico, a privacidade, o intocado e a introspecção – é notadamente individual. Neste olhar, “a ênfase é colocada na solidão, na privacidade e em relacionamento pessoal e semi-espiritual com o objetivo do olhar”. O olhar “coletivo”, por sua vez, precisa de um grande número de pessoas para se desenvolver, pois as pessoas que estão vendo e sendo vistas é que dão sentido a esse tipo de olhar. Se existem pessoas num lugar, é como se esse fato dissesse: “é aqui que devo ficar, aqui é legal”. (URRY, 2001, p. 69-70)
O turismo e a “imagem” possuem ligação constante, é fato que sem a imagem, não há oferta turística. Essa conexão entre os dois elementos despertam o desejo no turista em conhecer novos lugares, vivenciar e trocar experiências inéditas. Através disso, surge a paisagem.
De acordo com Terkenli (2004), a paisagem surge como: “(…) Imagem ou representação de um lugar, a paisagem representa o meio principal e mais durável de contacto entre o turista e o lugar prospetivo ou consumido” (Terkenli, 2004, p. 382).
Quando se fala em turismo, um dos maiores propulsores para o seu sucesso é a paisagem. Através da paisagem o turista se sente, automaticamente, influenciado a conhecer determinado local, seja por curiosidade ou pelo simples fato de querer adquirir novas experiências e trocas culturais. Marujo e Santos (2012) acreditam que:
O turismo vende paisagens que, durante muito tempo, se aproximavam da perceção de paraíso de cada pessoa. É o desejo de encontrar essa paisagem ‘paradisíaca’ que leva muitos turistas a deslocarem-se para diferentes lugares promovendo, deste modo, a atividade turística, mas que hoje pode invocar outras paisagens. (Marujo e Santos, 2012, p. 41)
Dessa forma, podemos dizer que a paisagem é fator essencial quando se fala em turismo. Ela se torna o elemento de desejo quando falamos em oferta turística. Parte dos indivíduos gostam do que é belo, atraente e inédito. Outra característica importante é o significado da paisagem conforme a visão de cada ser humano que a observa.
Conforme Cruz (2002, apud MARUJO et al, 2012, p. 42):
Se é verdade que para o turismo a paisagem constitui muitas vezes o fator determinante para a escolha de um destino de lazer, também é evidente que esta mesma atividade pode provocar profundas modificações na paisagem. Como argumenta Cruz (2002), as paisagens não mudam de lugar, mas mudam frequentemente de significado. Elas não resultam apenas da evolução histórica ou cultural de uma sociedade ou da forma como o indivíduo apreende ou representa a realidade material ou imaterial. (2002, apud MARUJO et al, 2012, p. 42)
Dessa forma, podemos observar que cada indivíduo tem uma percepção diferente, seja da imagem, da paisagem, ou de qualquer outro fator envolvido na hora de escolher uma destinação. E diante disso, é possível dizer que existem motivações diferentes que influenciam o turista na escolha do local. Pode ser que a imagem traga lembranças emocionais ao indivíduo ou o faça se sentir bem pelo simples fato deste observar a paisagem, fazendo com que se sinta motivado a buscar pelo destino.
Fotografias e relatos de viagem
Outro fator importante é a busca do turista pelo melhor local para observar a paisagem e fazer fotografias. Para Marujo e Cravidão (2012), “Fotografar ou filmar um lugar constitui, para um turista, a estruturação do seu testemunho sobre a realidade que está a captar. Significa, também, um meio de recordar a sua experiência” (Marujo e
Cravidão, 2012, p. 285).
Portanto, as mídias sociais assumem um papel alternativo e muito importante quando se fala em escolher um destino para realizar uma viagem. Através das mídias sociais é possível comercializar, mesmo que de forma consciente ou inconsciente, uma destinação turística. Seja através de fotos, stories, relatos de viagens, fotos de amigos, entre outros fatores. Para Barbosa (2019):
[…] ao compartilhar fotografias de viagem, o turista estará atuando como um agente de promoção daquele destino, sendo que anteriormente, o mesmo turista foi influenciado pela imagem do destino que já veiculada pelo trade turístico, composto por agentes públicos e privados da indústria turística (BARBOSA, 2019, p. 06)
Além da paisagem, os relatos das viagens também se tornam de extrema importância. Através deles, é possível “conhecer” um pouco mais do que é esperado na estadia. A fim de estimular a curiosidade do turista em potencial, fazendo com que o mesmo se interesse em tomar suas próprias conclusões e relatos de experiência numa possível
viagem. De acordo com Gândara (2008):
Quanto maior e melhor a informação disponha o turista com relação ao destino, mais a imagem que este terá do referido destino corresponderá à realidade. É importante destacar que a imagem de uma cidade como destino turístico deve estar estreitamente relacionada à imagem desta cidade como um todo, pois isto será positivo no fortalecimento de ambas as imagens. (GÂNDARA, 2008, p. 2)
Busca por fotos instagramáveis
Diante disso, muitos empreendimentos do ramo turístico buscam incentivar o compartilhamento de imagens nas mídias sociais, gerando um relacionamento entre a divulgação do destino, os visitantes e turistas em potencial. Consequentemente, é possível influenciar outros indivíduos a visitarem e consumir os produtos turísticos de determinada localidade, pelo simples fato de ter postado uma selfie nas mídias sociais e o espectador sentir o desejo de reproduzi-la, para conhecer o local e tirar suas próprias conclusões com as experiências e vivências desfrutadas.
Com isso, surgem os influenciadores digitais, que fazem parte do marketing digital. Conforme Barbosa e Silva (2019):
(…) o surgimento dos influenciadores digitais constitui-se como mais uma estratégia promocional das empresas para fortalecer sua competitividade perante outras empresas. Eles são atuantes nas mais diversas redes sociais e normalmente, são patrocinados por empresas para consumirem e promoverem os seus produtos e serviços. Eles atuam como formadores de opinião e costumam influenciar muito a decisão de escolha do consumidor. (Barbosa e Silva, 2019, p. 08).
Os influenciadores auxiliam na promoção e comercialização de produtos e serviços via mídias sociais, isso se dá por conta do seu alto poder de persuasão e facilidade em despertar o desejo no consumidor. Portanto, pode-se dizer que as mídias sociais podem ser eficazes também no ramo turístico. De acordo com Nascimento (2020), os lugares turísticos promovidos pelo compartilhamento de fotos no Instagram, talvez, sintetizem as mudanças que agregaram a experiência em viagens nos dias de hoje. Araujo (2016) relata um exemplo sobre influência digital através da mídia social Instagram e a quantidade de visitas recebidas na pedra do Telégrafo. Houve um grande aumento no número de turistas no local, esse fato se deu, após um famoso jogador de futebol postar uma fotografia no aplicativo Instagram beijando a esposa pendurado na pedra do Telégrafo como prova de amor.
Isso quer dizer que lugares, que anteriormente eram poucos conhecidos, podem se tornar pontos de visitas turísticas em massa só pelo fato de terem aparecido em fotos no instagram de alguma pessoa influente. Fazendo com que outros indivíduos queiram reproduzir fotografias no mesmo local. De acordo com reportagem da Revista Forbes
(2020) em 2017, num estudo feito pela empresa Schofields, verificou-se que 40% da chamada geração Y (ou millennials) preferem viajar para lugares mais ‘instagramáveis’, 24% priorizam custos e bebidas alcóolicas, 22,6% buscam desenvolvimento pessoal, 9,4% a gastronomia e 3,9% oportunidades de paisagem.
Salazar (2017) destaca o conceito das fotos instagramáveis como uma forma de:
(…) promover a construção de uma identidade individual que se ampara em culturas visuais precedentes e contemporâneas, resultando na construção de padrões, ângulos, uso de cores, de filtros e de enquadramentos que se repetem centenas de milhares de vezes. A esse conjunto de fatores, regras e padrões que influenciam a escolha das cenas e objetos retratados, podemos dar o nome de instagramável, (…), termo usado por usuários da rede para designar aquilo que é “digno” de se tornar uma publicação. (Salazar, 2017, p. 102).
Alguns exemplos de fotos com conceitos instagramáveis estão destacados no Blog Voalá 2. Determinados destinos, que por sua vez, são os mais procurados pelos turistas estão localizados no estado de São Paulo, sendo eles, Beco do Batman, localizado na Vila Madalena, Avenida Paulista e Farol Santander.
Demais alternativas estão presentes no Rio de Janeiro, um deles é o Mural das Etnias que consiste em pinturas com rostos indígenas, africanos, inuítes e aborígenes. A Escadaria Selarón foi construída pelo chileno Jorge Selarón, a mesma foi confeccionada com imagens e azulejos que representam o Brasil e o mundo inteiro. Outras opções para
quem busca a fotografia perfeita estão presentes no Jalapão em Tocantins, o Trem de Morretes em Curitiba, Salar de Uyuni localizado na Bolívia, Capadócia na Turquia, Sakuras em Tóquio, e por fim, Garden Route localizado na África do Sul. Esses destinos costumam receber um grande número de visitantes com a finalidade de fazer boas fotografias para postar em suas redes sociais garantindo muitos views e likes.
Conforme Willians (2019), as empresas globais do trade turístico, as municipalidades locais e órgãos institucionais já perceberam, tanto para o bem quanto para o mal, o quanto a selfie tem sido determinante na turistificação dos lugares.
O fenômeno das fotos ‘instagramáveis’ se dá pelo fato de que os turistas vêm buscando a inovação em suas redes sociais com fotos inusitadas, em lugares inusitados, e de formas inusitadas. Buscam-se diferentes ângulos do ambiente, poses e efeitos. De acordo com Nascimento (2020):
A um só tempo, possuem e não razão os que atribuem à autenticidade o motivo por que os lugares turísticos instagramáveis são um sucesso. É que o “autêntico” na sociedade midiática passou a ser sinônimo da imagem que nos faz ser notados e, assim, amealharmos seguidores. (NASCIMENTO, 2020, p. 05).
Então, se pode dizer que tais originalidades trazem o foco para a essência do local visitado e fazem com que o turista seja “visto” pela sua autenticidade nas fotografias, e com isso, obtém engajamento nas mídias sociais. Nesse contexto, todos os envolvidos podem ter retornos positivos. Os destinos turísticos com aumento no fluxo de visitantes
com bons retornos financeiros e o turista influenciador com popularidade e status em suas redes sociais.
Dessa maneira, é possível enxergar a importância do desenvolvimento e junção da tecnologia com as mídias sociais presentes em nosso cotidiano. Quando se fala em turismo, as novas tecnologias, mídias sociais e sites como o TripAdvisor se tornam um canal extremamente facilitador para que o turista consiga identificar se determinadas
localidades possuem características que agradem e enalteçam suas preferências na hora de escolher um destino. Na fase da pré-viagem o turista consegue identificar paisagens para boas fotografias, produtos, serviços e equipamentos que atendam suas necessidades e expectativas. Assim, as paisagens instagramáveis são fatores diretos na influência e
escolha dos destinos turísticos.