- Este texto faz parte da Monografia Áreas verdes urbanas: proposta de análise espacial comparativa em três cidades da Mesorregião Centro Ocidental Paranaense
O aparecimento das primeiras cidades está relacionado a uma revolução agrícola (desenvolvimento de tecnologia e geração de excedentes na agricultura). A partir do momento que o ser humano começou a ter alguma técnica agrícola ele deixou de ser nômade, criou-se uma divisão do trabalho originando-se, a partir de então, os primeiros aglomerados urbanos. Pode-se dizer, a princípio, que a cidade nasce da necessidade de se organizar num dado espaço no sentido de integrá-lo e aumentar sua independência visando determinado fim.
As origens da ocupação territorial dos municípios da região de Campo Mourão remontam primeiramente aos caminhos percorridos pelos indígenas e, posteriormente a ocupação por frentes espanholas e portuguesas após a descoberta do território brasileiro e consequente busca exploratória. A partir do século XVI, com a vigoração do tratado de Tordesilhas, os espanhóis organizaram uma série de expedições para encontrar uma passagem interoceânica, (STECA & FLORES, 2002), subordinar o grande número de indígenas ali encontrados e deter as continuas penetrações a oeste da linha de Tordesilhas (WACHOWICZ, 1972).
A invasão de portugueses e bandeirantes paulistas além dos limites do Tratado de Tordesilhas e a destruição das reduções jesuíticas culminaram no Tratado de Madrid em 1970 que trouxe aos portugueses o domínio sobre terras a oeste da linha de Tordesilhas. De posse das terras, bandeirantes paulistas e portugueses comandados por Afonso Botelho de Sampaio e Souza realizaram várias expedições no período de 1768 a 1774, entre elas, uma que originou os Campos de Mourão, mais tarde renomeado para Campo Mourão.
Segundo Steca e Flores (2002) a partir de 1880 começou o povoamento da região com as expedições vindas de Guarapuava, formada por criadores de gado. No começo do século seguinte, o argentino Júlio Tomás Allica estendeu um império ervateiro que atingiu a cidade de Campo Mourão e o vale do Ivaí, destruído somente a partir da chegada dos revolucionários de 1924 (Steca e Flores, 2002). O grupo comandado por Allica adentrou as “picadas” feitas por paraguaios e índios fundando acampamentos, onde se encontravam trabalhadores, vivendo praticamente sob trabalho escravo. Entre os acampamentos, o de maior destaque foi o de Natividad que foi o embrião que deu origem a Hammam Amburê anos mais tarde.
Nesse mesmo período, iniciou-se a abertura de novas estradas rurais, entre elas a Estrada Boiadeira (1910) que ligava a região ao Mato Grosso para melhorar a acessibilidade da região a novos mercados e fluxos populacionais. Mesmo assim, o problema ainda era gritante na região a ponto de um dos povoados, criado na década de 1940, ter o nome de Barreiro do Oeste (atual Boa Esperança).
A derrubada da vegetação abriu caminho para a possibilidade de mais um ciclo econômico na região com a exploração da madeira. Segundo Olipa (1998, p.36), a região de Mamborê “era rica em pinheiros nativos e num determinado período chegou a contar com 30 serrarias em funcionamento”.
A partir de 1940, o poder público estadual implementou um plano geral de colonização, que resultou na criação de varias colônias na região de Campos do Mourão. Hespanhol (1993) relata-nos o modo de funcionamento deste plano:
[…]nas áreas anteriormente ocupadas, o então Departamento de Geografia, Terras e Colonização do Estado (DGTC), realizou diretamente a colonização vendendo os lotes e principalmente legalizando posses. Nas glebas livres ou com pequena ocupação, o pode público concedeu o loteamento e venda das terras às empresas privadas de colonização. (HESPANHOL,1993 p. 21)
O resultado dessa política foi o encontro de duas frentes de ocupação: uma do Sul com safristas, muitas vezes descendentes de imigrantes europeus e do norte derivada das frentes colonizadoras de café. No entanto, o que imprimiu-se na realidade regional, segundo Hespanhol, foi o reconhecimento de uma área de transição onde se destacou a exploração da madeira, gêneros alimentícios, policultura para exportação e suinocultura. Isso ocorreu principalmente devido às características diferenciadas do clima local que não eram as mais favoráveis à cultura do café. Mesmo, assim em algumas localidades da região, entre elas o atual município de Boa Esperança, ocorreu a tentativa de produção da cultura cafeeira.
Dentro deste contexto, em 1947 foi fundado Campo Mourão que, no início da década de 1950, detinha grande área territorial entre os rios Piquiri e Ivaí conforme pode ser visualizado na imagem abaixo, cobrindo inclusive os territórios dos atuais municípios de Mamborê e Boa Esperança.
Em 1960 ocorreu a emancipação Mamborê tornando-se município. Neste período a população era constituída de 10.276 habitantes, sendo que quase 80% correspondiam à população de rural. Quatro anos mais tarde é a vez de Boa Esperança que se desmembrou de Janiópolis e Mamborê. Do início da década de 1960 até 1981 Juranda figurou como distrito de Mamborê, por essa razão no censo de 1970 o município contou com mais de 34 mil habitantes. Em 1970, Boa Esperança também teve seu ápice populacional com mais de 14 mil habitantes, dos quais quase 13 mil residiam na área rural, caracterizada até esse período por apresentar pequenas propriedades. Os gráficos abaixo demonstram de forma sintética as variações populacionais nestes três municípios.
A partir da década de 1970 com o processo de modernização da agricultura, impactado diretamente após a criação da COAMO, ocorreu intenso êxodo rural na região com a aplicação de novas técnicas e o destaque oferecido ao binômio trigo/soja. Esse processo trouxe melhorias significativas nas comunicações, nos transportes, infraestrutura, desenvolvimento de novos serviços e empreendimentos. No entanto trouxe também os problemas do crescimento desordenado de alguns núcleos urbanos, êxodo rural e uma série de problemas sociais.
O Brasil como um todo, passou a sentir os efeitos da industrialização com maior força apenas a partir da segunda metade do século XIX onde ocorreram mudanças na dinâmica de suas cidades que, na maioria das vezes não se preocupavam com um planejamento adequado do seu território. A legislação brasileira trouxe essa preocupação após as mudanças que ocorreram no pós 1970, entre elas a constituição de 1988, o Estatuto das Cidades, a Política Nacional de Meio Ambiente, as Leis Orgânicas municipais, Planos diretores e Leis de Zoneamento Urbano. Elas fornecem ferramentas e interpretações interessantes de como os agentes públicos interpretam o espaço e de que forma estes são influenciados pelos outros personagens existentes no contexto urbano[1].
[1] Segundo Correa (1999) os agentes modeladores do espaço urbano são: os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado, e os grupos sociais excluídos.