- Este texto faz parte da Monografia Áreas verdes urbanas: proposta de análise espacial comparativa em três cidades da Mesorregião Centro Ocidental Paranaense
De Angelis & Loboda (2005) apontam a estreita relação com elementos mítico-religiosos, apontando o paraíso do livro bíblico Gênesis passando por mitos e lendas até chegar aos tempos modernos. Para estes autores, as áreas verdes urbanas têm forte ligação com a arte da jardinocultura que surgiu, independentemente em dois lugares: Egito e China. Na China surge com sentido religioso e filosófico, onde cada elemento tem seu significado próprio (simbologia). Já os jardins do Egito, que influenciaram todo o mundo ocidental, tinham a função principal de amenizar o forte calor das residências. Segundo Machado e Bovo (2009, p. 17) estas áreas verdes “tinham como característica as piscinas que serviam de reservatório para peixes, onde ao redor eram esquematizados os jardins com diferentes espécies de árvores, sendo que as mais utilizadas eram as frutíferas”.
Gregos, persas e outros povos ocidentais foram fortemente influenciados pelo estilo egípcio. Os gregos acrescentaram ao modelo egípcio um maior contato com a natureza, fuga da simetria e regularidade e passaram a ser locais de passeio, conversa e lazer da comunidade. Segundo Machado e Bovo (2009, p. 18) “outro ponto que difere è a introdução de colunas nas entradas e saídas dos jardins, assim como a presença de esculturas de pessoas e animais.” Os persas, por sua vez, adotaram uma mistura das características egípcias e gregas e no Império Romano todas as “vilas” possuíam um jardim e/ou espaço livre.
Segundo Lorca (1989) na Idade Média a ruralização e a cultura feudal significaram a quase ausência das áreas verdes. Sua presença esteve limitada a pequenos espaços particulares em meio ás paredes dos feudos. No mundo dominado pelo islamismo, também nesse período, a integração dos modos de vida permitiram um desenvolvimento expressivo no desenho e significado dos parques, ainda que espaços privados destinado às elites. Durante o Renascimento e início da Idade Moderna, as construções de áreas verdes voltam a ocorrer, entretanto, os parques mantiveram o caráter privado e ligado aos interesses da elite.
Ferreira (2005), afirma que, a partir do século XVI, os parques públicos e jardins surgem como fragmentos da natureza no meio urbano, ou seja, constrói-se um imaginário nos espaços de natureza conservada com o objetivo de aliviar os problemas urbanos. Após a Revolução Industrial intensifica-se desprivatização e abertura de novas áreas verdes, em contraponto a sociedade industrial conforme aponta Lorca (1989)
En consecuencia la demanda social de uma mejor calidad em las condiciones de vida, unida a la reinvindicación de medicos e higienistas hacen que los poderes públicos tengan que dar solución a estas demandas sociales. (…)Consecuencias de ello es el reacondicionamiento para el uso público de los parques de la nobleza a la vez que se constituyen numerosos parques públicos. (LORCA, 1998, p. 107)
O parque urbano do século XIX era a representação de certos ideais democráticos, onde se via neles a ideia de “oásis urbano”. Segundo Ferreira (2005), entre as causas da preocupação com a manutenção destes espaços, destaca-se a Revolução Industrial, a mecanização e o êxodo rural, associada às idéias de lazer e conceitos higienistas que se fortalecem no emergir do século XX na Europa.
Loboda & De Angelis (2005) afirmam que os primeiros indícios de paisagismo em território brasileiro datam do século XVII, em Pernambuco durante o período da Invasão Holandesa sendo que pouco restou da área após a derrota para os portugueses. Com a chegada da família real ao Brasil houve a necessidade de se reorganizar o espaço para uma nova elite, dessa forma, as principais cidades do império passaram por processo de reestruturação e modernização. Nesse período surgem, no Rio de Janeiro, capital do império, os três primeiros parques: o Jardins Botânico, Passeio Público e Campo de Santana.
Segundo Macedo e Sakata (2003), o sonho das elites emergentes era a de construir uma “Europa Tropical”. Nesse Brasil europeu os parques tinham funções contemplativas e segregacionais. Realidade que foi se modificando a partir da segunda metade do século XX devido a três fatores: a falta de área de lazer para a população mais pobre, o discurso higienista e à preocupação com a paisagem urbana, transformando os parques em uma necessidade social.
Segundo Feiber (2004), a partir da era industrial, a evolução dos parques urbanos ocorre em conformidade com as mudanças urbanísticas das cidades em todo o mundo, novas funções são adicionadas às antigas surgindo novas denominações (Parque Ecológico, Temático, etc) e novos papeis são atribuídos a essas áreas. No Brasil, segundo Macedo (1998, P.15), em menos de 200 anos de existência de projetos paisagísticos, já existiram pelo menos três linhas projetuais: eclética, moderna e contemporânea:
a) O período do ecletismo é definido pelo surgimento dos primeiros parques públicos, das praças ajardinadas, dos jardins dos barões do café no Rio de Janeiro e São Paulo. Iniciou-se com a construção do Passeio Público do Rio de Janeiro e perdeu a sua hegemonia com os grandes projetos públicos de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. É importante salientar que recebeu forte influência européia.
b) O período moderno iniciou-se com os trabalhos desenvolvidos por Roberto Burle Marx em Recife, mas destaca-se pelos jardins do Ministério da Educação e Cultura no Rio de Janeiro, caracterizados pelo uso da vegetação nativa e pelo rompimento com as escolas clássicas.
c) O período contemporâneo: Desenvolveu-se a partir dos anos de 1980 e 1990, recebendo forte influência dos paisagistas japoneses, americanos e franceses, utilizando estruturas construídas e vegetação.
Diante das mudanças conceituais e funcionais das áreas verdes é essencial que haja compreensão destas mudanças e das formas de se agir nestes espaços, para que ocorram gestões eficientes e coerentes com a realidade socioespacial da cidade atual.