- Este texto faz parte da Monografia Áreas verdes urbanas: proposta de análise espacial comparativa em três cidades da Mesorregião Centro Ocidental Paranaense
A proposta referente ao parque urbano no município de Mamborê-PR é recente e têm-se informações de que teria iniciado em 2002 com a assinatura de um convênio entre o município e o Governo do Estado do Paraná para a construção de um parque municipal. Este contaria com “pista para caminhada, parque infantil, praça de alimentação, lanchonete e toda infraestrutura” (Tribuna do interior, 26/02/2002). Esta proposta inicial, no entanto, acabou não se concretizando, ressurgindo em 2007.
O parque ecológico está sendo implantado na entrada do município de Mamborê-PR com cerca de 135 mil metros quadrados, tendo como limites a rodovia de acesso á BR 369, a Avenida Abel Desidério de Araújo e a Avenida Augusto Mendes dos Santos, por onde ocorre o acesso ao parque. Neste espaço existia um almoxarifado, um barracão da prefeitura e pequenas propriedades ao entorno. Inclusive uma das justificativas do poder público recai sob a degradação ambiental a que este ambiente estava sujeitado. Outra justificativa quanto à implantação do parque urbano é relacionada com carência de espaços de lazer destinado à população e, o parque poderia vir a contribuir com a melhoria da qualidade de vida da população urbana.
O cronograma original prevê que o projeto seja executado em cinco etapas: a drenagem do terreno (1ª etapa), a formação do lago (2ª etapa), construção da pista de caminhada (3º etapa), Centro de Eventos (4ª etapa) e paisagismo (5ª etapa). Atualmente a obra está entrando na quarta etapa. Durante o período de execução da 1ª, 2ª e 3ª etapas, a administração municipal e a população local realizaram algumas atividades relacionadas à educação ambiental que merecem destaque: houve uso deste espaço por parte de escolas do município com o intuito de abordar as temáticas relacionadas à educação ambiental: reflorestaram-se as margens do Rio Ribeirão Mamborê em setembro de 2009, lançaram-se peixes no lago em junho de 2010 e foram realizadas pescarias organizadas pelo poder público municipal (Figura 18).
ANÁLISE DOS EQUIPAMENTOS DISPONÍVEIS
A entrada do parque está localizada na Avenida Augusto Mendes dos Santos, sendo pavimentada com pedras irregulares que, segundo o projeto da obra, tem o objetivo de garantir o máximo de permeabilização possível. Neste local, na área externa, visualizam-se três luminárias tipo jardim, uma calçada para pedestres, estacionamento, gramado, duas placas indicando os recursos investidos na obra, uma lixeira e um pórtico de entrada.
Lima, Bovo & Tows (2011) realizaram a descrição da área de estudo elencando as principais características da área verde até o primeiro semestre de 2011. O que acrescentou em relação à descrição anterior foi o plantio de mudas arbustivas em toda área verde, construção de um banheiro permanente, conclusão da segunda ponte em madeira e a delimitação da área verde com a instalação de cerca. Adentrando ao parque, pela direita, existe uma mini academia feita em madeira iluminada por luminárias baixas e altas. Mais adiante, existe sinalização apontando a localização do estacionamento interno, próximo à Academia da Terceira Idade (ATI) delimitado por meio fio e calçada pavimentada em direção à ATI. Ao lado da ATI encontra-se outra academia feita em madeira contando com quatro equipamentos de alongamento, uma lixeira e uma luminária em poste alto de duas pétalas. A iluminação noturna entre a ATI, a propriedade rural e o loteamento Alto da Colina ocorre a partir de quatro grandes luminárias. Ao lado deste encontram-se dois banheiros recém construídos e, do outro lado do lago, próximo a uma das pontes, dois banheiros provisórios. Próximo a esse último existe uma torneira que serve de ponto de água. Em dias de eventos públicos, como as “pescarias”, é instalado no local um bebedouro com disponibilidade de água gelada.
Na área entorno ao lago várias luminárias baixas estão distribuídas, garantindo a iluminação noturna, para que usuários possam utilizar a pista de caminhadas, feita em concreto, com 730 metros de extensão e 2,70 de largura, para lazer e realização de atividades físicas (Figura 20). Além disso, lixeiras de madeira encontram-se espalhadas ao redor do lago, academias, bancos, e toda área as margens do lago é coberta por gramado rasteiro. Ainda com relação ao lago ao centro dele existe uma pequena ilha portando uma grande luminária e tendo como acesso a ela duas pontes. Um fato que impressiona é a já existência de pichações nos equipamentos dessa área verde, mesmo com todos os trabalhos de conscientização promovidos pelos órgãos de imprensa locais e órgãos públicos.
Paralelo a uma das pontes e ao acesso para o estacionamento existe uma rampa em concreto que permite que as pessoas possam ter contato maior com o lago, tendo sinalização indicando que é proibido entrar e nadar no lago. Na área externa, com acesso à Rodovia Prefeito Armando Alves de Souza (acesso ao trevo para Campo Mourão), existe ainda um telefone público em bom estado de conservação e em pleno funcionamento. Por fim, o local conta com a presença de funcionários públicos que se revezam para garantir a segurança de toda área verde.
Nesta área verde ainda não existe palco para apresentações artísticas, obras de arte, quiosques, lanchonete, edificações institucionais e pontos de ônibus ou táxi. Porém, no cronograma de execução da obra é previsto a construção de um centro de eventos destinado ao uso público, assim como a implementação de paisagismo no local. Na área do parque existe uma quadra esportiva que pertencia a Associação Recreativa dos Servidores Públicos Municipais de Mamborê. Até o primeiro semestre de 2012 o local encontrava-se praticamente abandonado com a grama alta e com os equipamentos danificados. O quadro 4 apresenta a síntese qualitativa das estruturas e equipamentos existentes no parque.
O Parque do Lago de Mamborê pode ser considerado como a mais importante área verde de lazer localizada no perímetro urbano do município. Além do parque, o município conta com outras cinco áreas verdes públicas em sua sede: a Praça Padre Ervino Schmitt, a Praça 28 de Julho, a Praça Rondon, a Praça Alto da Glória, a Praça das Flores e uma Praça em processo de revitalização no Conjunto Santa Luzia.
MAMBORÊ: A POPULAÇÃO E SUA PRINCIPAL ÁREA VERDE
Foram aplicados vinte questionários com usuários de diferentes faixas etárias abrangendo desde 13 até os 68 anos, com uma idade média de 35 anos, sendo a maioria do sexo masculino. Quanto ao grau de instrução dos entrevistados (Gráfico 6), 15% finalizaram o primário e 5% estudaram apenas parte dessa etapa, 20% não finalizaram o ensino fundamental, 15% concluíram o ensino fundamental, 10% não completaram o ensino médio e 35% concluíram nível médio. Entre as profissões dos usuários selecionados quase metade foi representada por estudantes e donas de casa, abrangendo um público heterogêneo (agricultor, aposentado, autônomo, diarista, encarregado de almoxarifado, marceneiro, montador de cilos, motorista, vigilante, pedreiro e repositor de mercado).
Com relação ao uso da área verde (Gráfico 7), destacou-se seu uso para atividades relacionadas ao lazer (70%), tais como descansar, relaxar, distrair, passear, pescar e desestressar. A prática de caminhada foi indicada por 50% dos usuários e a prática de exercícios físicos por 35% dos entrevistados, demonstrando dessa forma a importância da área verde para promoção de melhoria da saúde da população e comprovando seu papel no contexto urbano como área de lazer.
Quanto aos fatores que os atraem ao parque 65% dos entrevistados indicaram o lago como um dos principais atrativos (Gráfico 8), seguido do contato com a natureza indicado por 40% dos entrevistados. As mini-academias foram citadas por 20% dos entrevistados e a Academia da Terceira Idade (ATI) por 15%. Algo que chamou a atenção foi o fato dos bancos serem elencados por quatro entrevistados (20%). Destes, três tinham mais de 40 anos, comprovando assim a presença da prática de contemplação do espaço. Por fim, foram destacados como atrativos a este parque o fato da área verde ser um espaço público que pode servir de substituição á academia e o convívio social propiciado pelo local.
A maior parte dos usuários (75%) utiliza o parque pelo menos uma vez por semana, deste grupo, dois usuários indicaram que utilizam o parque diariamente. Quanto ao restante, 20% afirmaram que visitam o parque uma vez por mês e 5% indicaram que frequentam o parque a cada 20 dias. Outro dado interessante com relação à frequência de uso do parque foi a percepção da importância do parque como instrumento de socialização conforme aponta Silva (2009):
Os parques urbanos podem ser vistos como espaços públicos que podem garantir o reencontro e reconhecimento entre os diferentes grupos da sociedade, tornando a vida pública mais autêntica, mais democratizada, e com mais autonomia para avançar diante dos problemas urbanos. (SILVA, 2009, p.12).
Tal fato evidenciou-se com a constatação de que 60% dos usuários informaram ir sempre acompanhados ao parque. Deste grupo, mais da metade informou que frequenta o parque com 3 a 4 pessoas.
Quanto ao horário de preferência para utilização, a maioria representada por 65% apontou que prefere utilizar durante o fim de tarde e início da noite e 30% das 15h ás 18 horas. A distância percorrida pela maioria dos usuários entrevistados (65%) e superior a 10 quadras do parque, 25% reside de 5 a 10 quadras de distância e apenas 10% reside de duas a cinco quadras. Quanto a permanência na área verde 85% dos usuários ficam até duas horas na área verde e 15% permanece no local por três horas ou mais.
Quando questionados se colaborariam com a manutenção ou com alguma atividade de cunho voluntário dentro da área verde 80% dos entrevistados se mostraram disponíveis, 5% informaram que dependeria da atividade e apenas 15% informaram que não apoiaram nem colaborariam com quaisquer atividade voltada a manutenção ou realização de alguma atividade na área verde. Ainda com relação a percepção da área verde, 95% dos entrevistados concordam que a área verde ajuda a melhorar a qualidade de vida urbana apontando como principais fatores contribuintes para isso, o aumento de opções de lazer e do convívio social, o alívio do stress urbano por meio da promoção de caminhadas, atividades físicas, distração e pelo incentivo à busca por uma vida mais saudável.
Quase a totalidade dos usuários (80%) conhece outros parques públicos urbanos e, um pouco da vivência e percepção advindas destas áreas refletiram nas propostas levantadas pelos usuários. Dentre as sugestões, as mais mencionadas foram: terminar a passarela que liga a ilha do lago (concluída no segundo semestre de 2012); necessidade de instalação de lanchonete e quiosques; terminar o banheiro e abrí-lo ao público; cuidar do paisagismo; consertar o piso nos locais onde foram instalados os dutos de esgoto; construção de proteção na ponte próxima aos dutos da mina de água que abastece o lago; plantar árvores em volta do lago; e, um usuário foi bastante enfático mencionado que falta apenas “terminar o serviço”.
Além destas propostas que predominaram nas entrevistas, outras foram destacadas dentre elas: instalação de lanchonete com bebidas sem álcool; necessidade de equipamentos específicos para o público infantil; melhoria da segurança; criação de uma espécie de bosque; potencializar o uso da área para o turismo (eventos); criar eventos relacionados a esporte para a população local (ginástica, exercícios físicos com a presença de profissionais habilitados, etc); oferecer acessibilidade ao campo de futebol para que a população possa usar; disponibilização de alguns lugares para tomar água fresca, de preferência bebedouro com água gelada; cobrir a ATI para evitar que se danifiquem as estruturas ali instaladas, assim como incluir novos equipamentos ao conjunto; construção de uma ciclovia interna; melhoria no estacionamento interno, tais como o plantio de árvores para sombreamento dos veículos.
A diversidade das propostas levantadas revela que a população realmente se identifica com a área e tem preocupação com sua melhoria contínua. Pode-se ver por diversos momentos contradições nas opiniões propostas e, elas não podem ser consideradas erradas ou corretas ao extremo, pois cada qual revela o ponto de vista e os interesses individuais de cada usuário. Tuan (1983, p. 151) revela que o “espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado”, ou seja, as pessoas que utilizam o espaço são os responsáveis pela sua definição a partir do seu relacionamento com o espaço. Sabendo que cada pessoa tem seu modo de pensar, o lugar acaba recebendo uma multiplicidade de interpretações e, consequentemente, de propostas de ação espacial.