- Este texto faz parte da Monografia Áreas verdes urbanas: proposta de análise espacial comparativa em três cidades da Mesorregião Centro Ocidental Paranaense
O Parque Ecológico Olivo Fortunato Gaspareli é o maior espaço de lazer do município de Boa Esperança-PR. O que impressiona o visitante é a qualidade da infraestrutura existente e a consciência ambiental dos frequentadores deste espaço. O parque está localizado entre a Rua José Egidio de Lima, Avenida Brasil, Rio Barreiro e propriedades rurais ao entorno (Figura 21). Segundo o senhor Cláudio Gotardo[1], o parque foi inaugurado em dezembro de 2003 e iniciou suas atividades em janeiro de 2002, levando dois anos para ser construído em uma área anexada ao perímetro urbano, antes destinada à atividades agrícolas. Sobre o projeto da área verde, segundo Gotardo:
(…) o projeto foi do doutor Marco Silveira e o acompanhamento da parte civil foi do Marcelo Silveira, engenheiro urbanista e, a distribuição das obras dentro do terreno é influência minha porque eu gosto disso. Formação profissional, gosto. Então o desenho da lanchonete, dos quiosques, dos espaços, é, teve sempre a minha participação direta (GOTARDO, 2012).
Como justificativas para a construção da área verde Gotardo (2012) destacou a dificuldade em se ter espaços destinados a lazer, práticas de educação ambiental e valorização da cultura local.
Bom, a cidade pequena tem dificuldade de espaço pra lazer e espaço também educativo pra gente mostrar pros nossos filhos, nossos netos, nossos estudantes como é que era a natureza originalmente. A natureza foi totalmente devastada e havia a necessidade de criar um bosque com as espécies nativas do nosso município pra perpetuar. Fazer lá um banco genético que é a possibilidade de, no futuro, as crianças conhecer o que é uma peroba, um ipê, uma canafístula, enfim todas as espécies, o pinheiro, que são nativos de nossa região. Então é um espaço pra lazer e pra cultura (GOTARDO, 2012).
No local, atualmente existe um lago com cerca de 25 mil m², lanchonete, quiosques, casa de um policial e de um zelador, banheiros, pista de caminhada pavimentada e iluminada, bebedouro, quadra esportiva coberta, quadra de areia, parque infantil, academia ao ar livre, estacionamento e ampla área verde com gramado rasteiro.
A área é amplamente utilizada pela população local por meio de caminhada, utilização da lanchonete e dos equipamentos disponíveis no local e, pessoas vindas de cidades a utilizam por meio de eventos realizados no parque. Conforme Gotardo (2012):
(…) Boa Esperança tem promovido eventos de grande dimensão. Tipo a semana de adrenalina, né, que finaliza com a etapa do campeonato paranaense e nacional de MotoCross. Tem vários eventos durante a semana, e parte desses eventos são realizados nesse parque. Atividades radicais como apresentação de tratores, né, em alta velocidade. Tratores que chegam a 140 km por hora, que fazem manobras radicais. Tivemos lá a apresentação de motos também com equipe de São Paulo que veio fazer um show de manobras radicais com motos, com bicicletas. Temos passeio turístico, passeio ciclístico, aliás. Tem uma série de atividades assim que são realizadas no parque ou próximo dele justamente pra dar oportunidade pra pessoas de outros municípios da região ou fora dela, né, que possam conhecer Boa Esperança (GOTARDO, 2012).
Assim como o parque urbano de Mamborê, o de Boa Esperança é de construção e implantação recente, diferentemente do Parque Joaquim Teodoro de Oliveira de Campo Mourão. Enfim, cidades pequenas em busca da melhoria da qualidade de vida urbana e da consciência da população quanto a importância de se preservar o meio ambiente. Nas duas próximas subseções serão elencados sobre os equipamentos existentes nessa área verde e sobre o que a população espera dessa área verde.
ANÁLISE DOS EQUIPAMENTOS DISPONÍVEIS
O parque apresenta uma ampla lanchonete com vista para o lago. Ao lado da lanchonete existe a “Ilha do Macaco” (Figura 22) que atrai os olhos dos visitantes que chegam até o Olivo Fortunato Gaspareli. Trata-se de uma ilha artificial instalada ao lado da lanchonete do lago, contanto com uma escultura sacra e animais ao entorno.
A área interna do parque é bem iluminada, inclusive na pista de caminhada e nos equipamentos internos. Existem luminárias baixas e altas que fazem com que toda a área verde possa ser utilizada durante toda a noite conforme pode ser visualizado na figura 23. A pavimentação existente no parque (pista de caminhada e estacionamento interno) é toda em asfalto e encontra-se em bom estado de conservação.
Outros equipamentos para uso da população existentes na área são: duas quadras esportivas, quiosques, banheiros em excelente estado de conservação (contando inclusive com chuveiros), amplo estacionamento próximo à lanchonete, mini-academia, parque infantil e bebedouro com água gelada. As duas quadras esportivas (uma poliesportiva coberta e uma de areia, ambas em bom estado de conservação e abertos ao público) são utilizadas pelo município para a promoção de projetos que visam o estímulo à pratica desportiva, tais como o projeto segundo tempo e o Karatê.
Ao lado da quadra de areia existe ainda um parque infantil com gangorra, balanço, ponte aérea e casinha, entre outros equipamentos conforme pode ser visto na Figura 25 (esquerda). Próximo aos banheiros, abaixo desta quadra de areia existe uma mini-academia com equipamentos para exercícios físicos (Figura 25, direita).
Existem dois quiosques (Figura 26) com conjuntos de enxovais e utensílios que podem ser utilizados gratuitamente por qualquer morador do município. Ambos os quiosques contam também com regulamento (com os direitos e deveres dos usuários) afixado em local visível e de fácil acesso.
Os pequenos canteiros existentes são limitados por meio do próprio gramado e ou por meio da existência de outros equipamentos (todos com placa indicativa). Existem poucas lixeiras no local, mas isso não impede que a área seja extremamente limpa. As poucas lixeiras existentes são de material plástico e encontram-se aglomeradas próximas á lanchonete do lago.
Outro ponto que merece destaque nesse parque é a segurança. Na área existem duas moradias onde reside a família de um guarda e a de um policial militar que são responsáveis pela segurança da área em determinados horários garantindo a inexistência de vandalismos nessa área verde. Quanto a pontos negativos encontrados logo na observação destaca-se a pequena quantidade de bancos, lixeiras e arborização na área verde, além da falta de um telefone público. No local não existe uma edificação institucional, porem existe um zelador responsável pelo cuidado da área verde que repassa as possíveis necessidades existentes na área para a administração local. A verificação dos itens analisados pode ser melhor visualizada a partir do quadro abaixo:
BOA ESPERANÇA: O PARQUE E SEUS USUÁRIOS
Entre as profissões dos usuários selecionados observou-se ampla heterogeneidade onde a maioria foi representada por donas de casa e estudantes, tendo também aposentados, servidores públicos, trabalhadores do comércio, agricultores e autônomos. A maior parte deles concluiu o ensino médio e 30% destes concluíram algum tipo de curso superior.
As principais atividades realizadas pelos usuários são: o relaxamento, a prática de lazer, caminhada, distrair os filhos. Quanto aos fatores que os fazem vir ao parque 45% dos entrevistados indicaram o lago como principal atrativo, seguido do verde indicado por 20 % dos entrevistados, o parque das crianças (20%), peixes (10%), convívio social (20%), lanchonete (10%), pista (10%), a paisagem (5%) e os animais (5%).
Na amostra selecionada mais de 60% dos entrevistados apontou que frequenta o parque pelo menos uma vez por semana, quatro indicaram que visitam todos os dias e dois estavam visitando o local pela primeira vez em decorrência de um evento que estava ocorrendo no local neste dia.
Quanto ao horário de preferência para usar o parque, 65% apontaram que preferem utilizar durante o fim de tarde e início da noite e 30% pela tarde, entre as 15 às 18 e, apenas um usuário (5%) afirmou preferir utilizar este espaço durante a manhã. Esse fato, pelo que pode ser percebido durante as entrevistas se deve a falta de sombra na área verde.
A maioria dos entrevistados percorre até dez quadras de distância (65% da amostra), 20% percorre mais de dez quadras, e três deles informaram ser de outros municípios, um de Janiópolis (sempre que possível, visita o parque), um de Juranda e um de Nova Cantú (ambos pela primeira vez no parque). A pequena quantidade de moradores que informaram caminhar mais de 10 quadras de distância do local se deve as pequenas dimensões existentes no perímetro urbano do município.
Notou-se ainda outro diferencial no perfil dos usuários nesta área verde, com um tempo de permanência superior ao de outras áreas verdes. 45% dos usuários informou ficar mais de três horas na área verde, e apenas 5% fica menos de uma hora no local, invertendo-se o quadro notado nos outros dois parques.
Quando questionados sobre a qualidade dos serviços do parque, a maioria dos usuários se mostrou satisfeita com a área, sendo a área verde com melhor avaliação por parte dos usuários com 90% dos entrevistados a classificando como boa ou muito boa.
Mais de 80% dos entrevistados informaram que vem acompanhados ao parque, destes, 45% informaram ir com até três pessoas, 35% com aproximadamente 10 pessoas, 18% com 3 a 4 pessoas e apenas uma pessoa informou vir ao parque acompanhado com uma pessoa. Apenas duas pessoas informaram vir ao parque sozinho e um usuário afirmou vir algumas vezes acompanhado com 4 a 5 pessoas. Entre as causas dessa sociabilidade está a existência da lanchonete que favorece a aglomeração de pessoas que muitas vezes frequentam o local com familiares e amigos.
Foi percebida também a preocupação com a área verde durante as entrevistas, quando questionados se colaborariam com a manutenção ou com alguma atividade de cunho voluntário dentro da área verde, 75% dos entrevistados se mostraram disponíveis, 20% informaram que não apoiaram nem colaborariam com quaisquer atividade voltada a manutenção ou realização de alguma atividade na área verde e 5% informou que dependeria do tipo de manutenção e, ou atividade a ser realizada.
No que se refere a importância da área verde para os moradores do município, todos os entrevistados concordam que a área verde ajuda a melhorar a qualidade de vida urbana e apontaram que os principais fatores que contribuem para isso é o aumento de opções de lazer (indicado por 50% dos entrevistados) e aumento do convívio social (35% dos entrevistados) oferecido pela área verde. Foram indicadas também, porém em menor quantidade, a opção de caminhada oferecida pelo parque que favorece a melhoria da saúde da população, participação de eventos, lazer e reflexão, a melhoria da organização urbana da cidade, trouxe um lugar de sossego e para prática esportiva, um lugar para idosos poderem caminhar e, um usuário chegou a afirmar que o parque “segurou o povo na cidade”.
De maneira geral, a maioria dos usuários mostrou-se satisfeita com as instalações do parque público, mencionando apenas algumas mudanças pontuais. Destaca-se entre os pedidos, o aumento no número de árvores na área verde (45% dos entrevistados), principalmente em torno do lago para possibilitar caminhadas mesmo durante um dia ensolarado e a melhoria/aumento de equipamentos disponíveis na área verde citado por 25% dos entrevistados. Entre estas melhorias o aumento de equipamentos foram mencionados: a instalação de mais bancos, de uma Academia de Terceira Idade, instalação de novos equipamentos na academia já instalada, realização de manutenção periódica dos brinquedos do parque das crianças, cercar o parquinho para evitar acidentes, pintura dos equipamentos infantis com cores “vivas” e instalação de um local para natação. Outras propostas levantadas pelos moradores foram: maior fiscalização quanto ao som alto durante a madrugada; o estacionamento deveria ser separado para que tenha mais espaço para circulação das pessoas em eventos maiores como o tradicional MotoCross que reúne multidões; uma área de lazer maior dentro do lago; organização e realização de mais eventos no local para aproveitar melhor o espaço; fiscalização mais rigorosa quanto a pesca irregular; colocar novos animais (um dos usuários propôs que sejam trazidas tartarugas ao parque); e for fim, colocar um guarda para cuidar do parque durante a noite.
Finalizando esta seção podemos ver que a dinâmica urbana resultante das relações humanas exerce forte influência na estruturação e organização das áreas verdes. Com áreas, estruturas e dinâmicas urbanas diferenciadas, notou-se nas três cidades a busca pelo uso da imagem das áreas verdes (consideradas cartões postais em seus municípios) como reflexo de uma cidade ambientalmente equilibrada e que busca a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes. Em contrapartida, o jogo de interesses dos personagens urbanos traz novas atribuições a esses espaços. Em Campo Mourão e Mamborê, por exemplo, percebeu-se o uso do “cartão postal” para o desenvolvimento de práticas de especulação imobiliária e em Boa Esperança, o espaço aparece como um local de desenvolvimento de sociabilidade, sendo que um dos moradores chegou a afirmar que o parque urbano ajuda a “segurar o povo” na cidade.
A organização e os equipamentos disponíveis em cada uma das áreas verdes apresentam certas semelhanças, ambas tem um lago, equipamentos para exercícios físicos, banheiros e funcionários dedicados a manutenção da segurança dos parques. Percebe-se que quanto maior a área urbana, maiores os desafios na manutenção e conservação dos equipamentos e da estrutura paisagística dos parques e demais áreas verdes urbanas. Apesar dos problemas encontrados, o Parque Municipal Joaquim Teodoro de Oliveira é bastante visitado por pessoas de cidades ao entorno. Prova disso foram as entrevistas realizadas em Campo Mourão (cidade pólo na região) com pessoas de outras cidades e a quantidade de pessoas que citaram o parque mourãoense como uma área conhecida tanto em Boa Esperança quanto em Mamborê.
[1] O Sr. Cláudio Gotardo foi prefeito do município durante a idealização, construção e implantação da área verde e concedeu-nos a entrevista no dia 09/11/12. A entrevista na íntegra se encontra no Apêndice II dessa monografia.