No dia 20 de abril de 2011, o professor Ricardo Fernandes Pátaro [Lattes], proferiu a palestra intitulada: “A questão da indisciplina no estágio curricular supervisionado: considerações sobre o cotidiano, o diálogo e a construção de valores.”
Inicialmente o professor Ricardo retratou por meio de imagens o passado e o presente da sala de aula e suas contradições. Segundo ele, apesar da inclusão das novas tecnologias, a maneira de dar aula se mantém estática. Geralmente o professor se mostra como o “dono da verdade” e os alunos são como caixas onde se “depositam os conhecimentos”. Diante dessa realidade Pátaro descreve que durante a experiência do estágio temos dois lados, um negativo e outro positivo. Do lado negativo temos muito no cotidiano escolar a repetição, que leva a tornar a aula desgastante e sem sentido prático para o aluno. Já do lado positivo temos o bom cotidiano, as relações sociais ali estabelecidas, os laços de amizade. A partir dessa experiência no cotidiano escolar, o acadêmico (futuro educador) deverá buscar formas de trabalhar considerando o que ele entende como papel do educador em sala de aula: ou educar para formação de cidadãos conscientes ou meros “papagaios humanos”, repetidores de ideologias dominantes.
Durante o estágio o acadêmico deve ir além de apenas falar do professor (bem ou mal), ele deve pensar a escola e ver as possibilidades existentes dentro do espaço escolar. Dessa forma minimiza-se os problemas que ocorrem na relação estagiário X professor, sendo que o estagiário não vai percebido como “uma pedra no sapato do professor”. Ainda sobre o estágio, o professor Ricardo destacou que o estágio deve possibilitar ao estudante ter uma visão da realidade escolar e, para tanto o mesmo não pode ocorrer de maneira superficial. Assim a experiência do estagio deve instrumentalizar o acadêmico, para que quando ele for a uma sala de aula definitivamente (para ministrar suas aulas) possa estar suficientemente preparado e consiga sucesso em sua carreira enquanto educador.
Segundo Pátaro, outro desafio a ser enfrentado é a fragmentação do conhecimento que dificulta o entendimento do todo. O engavetamento de disciplinas acaba sendo uma grande barreira que dificulta o entendimento de que elas trabalham de forma conjunta. Fazendo uma analogia, o que acaba ocorrendo é o esquecimento de que para se “desmontar um carro necessita-se de mais de uma ferramenta”. Diante dessa fragmentação do conhecimento existente nos dias atuais ele aponta a necessidade de saber trabalhar com os conflitos de idéias em sala de aula. O conflito deve ser momento de reflexão e crescimento e merece ser “encarado de frente”, pois caso contrário o profissional da educação não conseguirá ministrar sua disciplina em escola alguma. Ainda segundo o palestrante o conflito deve servir como instrumental para melhoria, se mostrando como oportunidade e possibilidade de transformação.
Quando aborda a questão da indisciplina em sala de aula, Pátaro cita como referência três estágios na formação do sujeito (anomia, heterônomia e autonomia) e, estes tendo relação direta com o comportamento social dos alunos levando à necessidade de se ver e identificar os problemas no cotidiano escolar. Inicialmente ocorre uma interação com o mundo, diretamente ligada à idéia de anomia (a – sem; nomia-regra, norma). No entanto, com o desenvolvimento, contato com a complexidade do mundo, convívio e cooperação com o outro, acaba-se passando para o estágio de heterônomia.
Pátaro aponta, no entanto, que muitas pessoas acabam não extrapolando este estágio e não desenvolvem sua autonomia. Para se chegar a autonomia necessita-se de outros sujeitos, para que a partir das relações sociais ali estabelecidas, prevaleça por fim o conflito entre autoritarismo X autoridade, ficando a escolha a cargo do sujeito. Pátaro procura deixar claro o grande abismo existente entre os conceitos: autoridade e autoritarismo. Segundo ele, a autoridade não advém de um único individuo, ela passa pelo respeito mútuo da coletividade, diferentemente do autoritarismo que é unilateral. Estes estágios estão intimamente ligados a prática docente e o educador deve escolher qual caminho deve seguir. Diante disso o educador deve ser capaz de lidar com a complexidade do cotidiano em sala de aula.
Fica em aberto às discussões.