* Essa postagem tem por objetivo destacar as principais ideias desenvolvidas pelo professor Jader Libório de Ávila [ENTREVISTA] em sua dissertação de mestrado intitulada: “A COAMO e o desenvolvimento geoeconômico da região de Campo Mourão”.
Em sua dissertação, ÁVILA (2002) enfoca a “revolução” e evolução das atividades econômicas no campo em decorrência da dinâmica cooperativista na região de Campo Mourão. Essa dinâmica cooperativista teve início através de políticas governamentais de incentivo à produção agrícola por meio de cooperativas. Estas acabaram por transição de uma agricultura de subsistência para uma agricultura intensiva, comercial. Conforme ÁVILA (2002):
“A cooperativa instalada em Campo Mourão e as demais cooperativas de cafeicultores criadas no norte do Paraná agem simultaneamente como agentes e instrumentos do Capitalismo e, ao assumirem este papel, agilizam a reprodução do capital.” (p.22)
Segundo ÀVILA (2002) a década de transformações e “revoluções” sociais e econômicas em nossa região foi a partir de 1960. Mundialmente temos a divisão Internacional do trabalho e a expansão do capital produtivo; No Brasil a tomada do poder pelos militares (golpe de 1964); No Paraná a “febre” por práticas desenvolvimentistas; Na região de Campo Mourão, ocorre o início do enfraquecimento do ciclo da madeira, quase que o desaparecimento da cultura do café e início da expansão da cultura de trigo e da Soja algum tempo depois para servir de cultura de rotação juntamente com o milho.
Nesses entremeios surge a Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda (COAMO). ÁVILA (2002) afirma que diferentemente do que a lógica leva a pensar, todo esse movimento não teve idéias socialistas, mas sim capitalistas: Eram “donos da terra”, ao contrário dos pressupostos históricos ligados ao pensamento do cooperativismo (p.24). No entanto, o próprio autor confirma que esse pensamento ligado ao cooperativismo teve início com filósofos da linha do socialismo utópico (Robert Owen, Willian King, Charles Fourier, Louis Blanc, P. C. Plockboy, entre outros).
Todo esse processo leva-nos a refletir sobre a assertiva defendida por Martins (1986) quando o mesmo está convicto de que é a mercadoria que dá um caráter mundial ao capitalismo e que o sistema de produção pode engendrar relações não capitalistas para assegurar a sua própria expansão. Apesar de ÁVILA (2002) defender os interesses capitalistas na proposta cooperativista, a mesma teve por base princípios socialistas de trabalho, onde todos os envolvidos de uma forma ou outra acaba se beneficiando. No entanto, com sua evolução acabaram por ser instrumento de penetração e consolidação do capitalismo no campo, formando nas palavras de Kautsky empresas capitalistas.
No Brasil os movimentos relacionados ao cooperativismo estão presentes desde as primeiras décadas do século XIX, no entanto ganham força após a crise de 1929 (Serra, 1986 apud: ÁVILA, 2002). Ou seja, a crise possibilitou o desenvolvimento de uma nova maneira de pensar o espaço rural brasileiro, no direcionamento da defesa da integração de setores produtivos agrícolas brasileiros por meio do apoio da ação estatal.
Conforme apresentado por ÁVILA (2002), as primeiras iniciativas em prol de práticas cooperativistas no Estado, foram relacionadas a presença de imigrantes europeus que “objetivavam a partir dos associativismo, fixar o homem na terra, facilitar sua adaptação à nova realidade sócio-cultural e econômica”. Segundo Serra (1986) apud ÁVILA (2002), as cooperativas surgem no Paraná a partir da década de 1940, chegando ao norte do Estado na década de 1950. Dentro desse processo histórico ÁVILA (2002) tece a trama histórica da evolução das práticas cooperativistas do Paraná, enfocando as cidades, cooperativas e personalidades que marcaram presença no inicialmente no palco Paranaense e posteriormente chegando à realidade da região de Campo Mourão, passando antes pelo modelo cooperativo implantado no Norte do Paraná e seus processos derivativos.
Segundo ÁVILA (2002), a partir de 1960 surgem os primeiros movimentos cooperativistas em nossa região. Até então, atividades econômicas da região estava ligadas à agricultura de subsistência, indústria madeireira e pequena escala na atividade cafeicultora. Mas essa realidade veio a se modificar com a incorporação do Trigo e da Soja, conforme ÁVILA (2002)
Com a introdução da cultura do trigo e da Soja, os produtores defrontavam com algumas dificuldades, como, armazenamento, comercialização de produção, intermediários que manipulavam preços e outras.(ÁVILA, 2002, p. 37)
Como afirmado acima, as dificuldades eram grandes e os produtores não teriam condições de superar todas essas adversidades individualmente, surgindo em decorrência disso o interesse em se unirem em prol da formação de cooperativas. Em 1970, surge a COAMO (Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda), em 1974 a COAGEL (Cooperativa Agropecuária Goioerê Ltda)[em abril de 2009 as instalações da COAGEL, passaram a ser arrendadas pela COAMO] e, em 1997 a COOPERMIBRA (Cooperativa Mista Agropecuária do Brasil) [Incorporada pela C. Vale também em 2009].
Mais especificamente à COAMO, ÁVILA (2002) afirma que sua criação, diferentemente do que ocorreu no norte do Paraná (relacionadas à monocultura do café), ela ocorre em defesa dos produtores do binômio Trigo e Soja. Dos 79 agricultores em novembro de 1970 aos mais de 23 mil associados em 2011, tornando a cooperativa a maior da América Latina, muita história se passou.
No período de 1970, a produtividade na região era fraca e segundo ÁVILA (2002), a região era conhecida como “a terra dos três S” – SAPÉ, SAMAMBAIA E SAÚVA. Nesse pedaço do Paraná os solos eram ácidos além da terra não ter valor de compra ou venda. Em 1974 são construídos os primeiros entrepostos em Mamborê e Engenheiro Beltrão. No período de 1981 à 1990, a cooperativa extrapola os limites do território paraense chegando ao estado de Santa Catarina, além de adquirir uma indústria de óleo de soja, uma destilaria de álcool (desativada no final de 2001), uma indústria de fiação de algodão e um terminal Portuário em Paranaguá. No ano 2000, a cooperativa passa também à produção de Margarina com a finalidade de agregar maior valor à produção dos cooperados.
Todo esse processo de desenvolvimento não ocorreu na inércia, sendo resultado de diversas estruturações realizadas pela cooperativa. Segundo ÁVILA (2002), a COAMO instalou uma sofisticada rede de armazéns, criou a fazenda experimental e o Laboratório de Análises de Sementes, além do acompanhamento técnico prestado pela cooperativa, servindo de base para os agricultores terem a possibilidade de melhorar sua produtividade. Ainda no processo de diversificação da Cooperativa, em 1989 surge a Cooperativa de Crédito Rural Coamo Ltda. (CREDICOAMO), com a finalidade de, através do fornecimento de financiamentos, fomentar a produção agrícola.
Por fim, ÁVILA (2002) elenca-nos três pontos na participação da COAMO no desenvolvimento econômico regional: a geração de impostos, a exportação e a distribuição das sobras. Na geração de renda aos municípios, estado e Federação por meio dos impostos, a cooperativa acaba por “financiar” indiretamente ações públicas voltadas à sociedade. Na exportação acaba por levar a produção regional à países que certamente, os produtores não conseguiriam chegar sem o apoio da organização. Na distribuição das sobras, os associados por meio do recebimento de um retorno sobre toda produção direcionada à cooperativa, acabam acrescentando capital às economias locais, aquecendo os setores secundários e terciários da região.
Referências
A expansão e o crescimento da COAMO Agroindustrial Cooperativa. Acesso em 01 out. 2011.
A Tyson Foods. Acesso em 01 out. 2011.
ÁVILA, Jáder Libório de. A COAMO e o desenvolvimento geoeconômico da região de Campo Mourão. [Disertação Mestrado em Geografia, Universidade Estadual de Maringá] Maringá: UEM, 2002.
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Coamo Agroindustrial Cooperativa. Acesso em 22 set. 2011.
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